O maior produtor mundial de café tem suas lavouras seguidamente afetadas pela escassez de água
Estimativas do IBGE apontam queda de 2,7% na safra de café em 2015. Com uma expectativa de 2,6 milhões de toneladas, o equivalente a 43,9 milhões de sacas, esse deve ser o terceiro ano consecutivo de baixa, segundo o Levantamento Sistemático da Produção Agrícola de Janeiro, divulgado em meados de fevereiro pelo IBGE. A estiagem prologada e as altas temperaturas são apontadas por pesquisadores e produtores como causa.
“Como certeza a safra em 2016 terá perdas maiores”, diz Reginaldo Oliveira Silva, técnico do campo experimental da Associação dos Cafeicultores de Araguari. A afirmação é feita com base na observação do crescimento de ramos – os internódios que seguram os frutos em seus galhos. “Não houve crescimento de ramos e não tem como salvar porque o período deles nascerem já foi”.
A forte seca de 2014 e o veranico desse ano já afeta os resultados da safra de café em 2016, também assegura a prévia da pesquisa da Fundação Pró-Café de Varginha (MG), encomendada pelo Conselho Nacional do Café (CNC) para saber os impactos da estiagem nas lavouras cafeeiras e o tamanho real da produção brasileira. A expectativa do setor é que a colheita no ano que vem seja inferior a 43 milhões de sacas. A média é de 50 milhões. O resultado integral da pesquisa seria divulgado no final de fevereiro quando essa edição já estava concluída.
O levantamento começou no início de janeiro e está sendo feito em todo o Brasil por técnicos da fundação, em parceria com pesquisadores de outras regiões. Da lavoura, eles observam as floradas, a quantidade de chumbinhos e, principalmente, o número de frutos que brotaram, sobrevivendo a uma das piores secas de todos os tempos.
O impacto da seca na produção dos grãos não foi completamente mensurado ainda devido as finalizações das colheitas e as dificuldades de quantificação das perdas por causa da pouca maturação ou enchimento de grãos. Na região abrangida pela ACA, cerca de 20 mil hectares de plantio de café e, segundo Reginaldo, quase 100% irrigados, a escassez de água afetou o preenchimento dos grãos. “A gente já vinha de uma seca prolongada e a irrigação teve que ser menor, antes ligava a bomba 24 horas, passamos há ligar 10 horas, por exemplo, porque se não diminuísse os riscos de escassez seriam maiores”, conclui.
Na região Oeste da Bahia os cafeicultores foram, segundo Cesar do Vale, diretor executivo da ABACAFE, Associação dos Cafeicultores do Oeste da Bahia, menos afetados pela estiagem porque estão em uma região com vários rios e nascentes. Hoje, o oeste da Bahia cultiva aproximadamente 15 mil hectares do tipo arábico, em um sistema totalmente irrigado – uma pequena parte por gotejamento e a grande maioria por pivôs centrais. Estima-se que 70% do café produzido na região sejam destinados ao mercado externo, 20% para o mercado de formulação de blends e 10% para a indústria nacional. Nesta safra, a área de produção chega a 10,8 mil de hectares.
Conversamos com a Coordenadora da Comercial Mineira, Fazenda São Lourenço, no Cerrado Mineiro que tem 100% de ser cafeeiro irrigado – 880 hectares plantados –, sobre como o irrigante está enfrentando uma das maiores crises hídricas da história e como minimizar seus impactos. Leiam a seguir.
As fazendas da nossa região como todos os outros produtores vêm sendo afetados com as mudanças climáticas, e nossa estratégia para minimizar os impactos estão voltadas para o manejo consciente e o uso racional e sustentável da água, pois diante de um planejamento eficiente é possível irrigar nas horas e ciclos certos sem impactar os reservatórios/represas de água existentes. A nossa metodologia começa com a implantação da estação meteorológica em um ponto central e pluviômetros distribuídos estrategicamente em várias áreas da propriedade. Com a estação, temos as variáveis climáticas a cada 3330 minutos, onde essas leituras são armazenadas e utilizadas posteriormente. Para a determinação do momento de se irrigar, existe uma planilha de gerenciamento de irrigação, que permite verificar a umidade inicial e final do solo na faixa de aplicação, devendo o operador de o Software inserir dados de chuvas e horas de irrigação em cada setor. Tomamos o cuidado na inserção dos volumes de chuvas (mm), pois os valores deverão ser os dos medidores instalados próximo a cada projeto de irrigação, pois se varia muito espacialmente. São realizadas lâminas de irrigação de 3 a 5 horas com turnos de regas de 3 a 4 dias conforme a necessidade da lavoura (idade, estágio fenológico, potencial produtivo, variedade, podas e outros). Para conservação das águas na fase de pré-colheita (inverno), como há uma diminuição na taxa metabólica da planta, o objeto de se irrigar é manter a planta apenas hidratada por intervalo maior, dando condições à lavoura de manter-se ativa, fazendo com que a mesma venha necessitar de irrigação em pós-colheita de forma mais tardia, estrategicamente próximo ao período de chuvas para floração, resultando em economia de água, energia elétrica e diminuição dos riscos de perdas de floradas. Outra estratégia é que damos preferência a irrigação noturna, por melhor eficiência do aproveitamento da água, pois a evapotranspiração é menor, bem como o KW/H também, reduzindo custos com energia elétrica. Fazemos as avaliações e medições periodicamente nos sistemas de irrigação, para controle de eficiência. A construção de reservatórios impermeabilizados, distribuídos nas lavouras, permite a irrigação noturna, economia de energia elétrica e aproveitamento das águas das chuvas.
Portanto, o planejamento de um bom manejo de irrigação está fundamentado em um sistema bem projetado, o que proporciona economia de energia, mão de obra, redução no uso de equipamentos, e maximização da produtividade. Assim, contribuímos com a preservação dos ecossistemas, eliminamos as incertezas das decisões diárias (decisão técnica da lâmina de irrigação), além de facilitar a interação e conciliação com outras decisões operacionais. A potencialidade produtiva das culturas bem como o controle fitossanitário é altamente influenciada pela aplicação de água em excesso ou em sua deficiência, e a ausência de um sistema de manejo implica em perdas, nem sempre de fácil mensuração.